ARCO 2017_Opening

A artista espanhola Carme Nogueira descobriu Portugal e deixou-se envolver pela sua cultura, história e tradições. Isso impeliu o seu sentido mais criativo e artístico, resultando daí um trabalho complexo, denso e plural. Agora, a artista retorna a Espanha e, através da Kubikgallery, galeria portuguesa que a representa, expõe a sua mais recente produção na prestigiada feira internacional ARCO de Madrid.
Carme Nogueira, doutorada em Belas-Artes pela Universidade de Vigo, foi uma das primeiras artistas da Kubikgallery, galeria situada em zona privilegiada da cidade do Porto e contígua a um local particularmente emblemático: os jardins do Palácio de Cristal. Aí, em 1934, decorreu a histórica Exposição Colonial, a primeira desse registo na Península Ibérica, e uma ocasião marcante a nível nacional e europeu pela divulgação das mais variadas culturas e conquistas coloniais. Os jardins do Palácio de Cristal foram habitados por reproduções de aldeias indígenas, pavilhões, um parque zoológico e esculturas. Algumas destas últimas encontram-se, hoje, deslocadas para outros pontos da cidade, motivo de grande interesse por parte da artista e ponto de partida para o seu trabalho fotográfico. Esse evento foi registado em fotografias pela conceituada Casa Alvão, que fora também encarregue dos arquivos fotográficos de todo o processo de elaboração do vinho do Porto, desde o campo até às caves, algo também determinante na concepção do trabalho de Carme Nogueira.
A obra da artista espanhola materializou-se nos singulares jardins durante nove dias, ao longo dos quais foi proposta como ponto de encontro e interação da artista com vários agentes culturais e público diverso. Carme sugeriu a discussão de vários temas e problemáticas, essencialmente procurando despertar o pensamento e a reflexão sobre a arte e a cultura contemporâneas. Deste modo, o conceito da artista ganhou proporções físicas de uma forma ativa, singular e inovadora.
O objeto artístico em questão evoca, por um lado, o pavilhão da Ferreirinha e, por outro, a ideia de um lagar, presente na sua estrutura de assentos. Contudo, desta vez assume-se interligado com outras obras que, por um lado, o acompanham, resultando um trabalho global e plural, ao mesmo tempo que, por outro lado, cada um desses objetos se apresenta por si só, na sua singularidade. Destes, fazem parte um vídeo de registo da instalação da obra no Porto, fotografias dos espaços e dos monumentos que fizeram parte do processo criativo e esboços que acompanharam toda a produção artística. Acrescentam-se, ainda, azulejos, objetos particulares de nítida qualidade estética, que, num tom azul semelhante ao utilizado na tão característica e apreciada azulejaria portuguesa, reproduzem formas recorrentes nas fotografias que tanto inspiraram a artista. Tal multiplicidade formal é registada num livro de autor, testemunho da dinâmica e complexidade do trabalho.
É esta capacidade de evocar o passado e trazer para o presente um retrato de época, através de uma mutação e renovação da história, que define Carme Nogueira como versátil, plural e contemporânea.

Constanca Babo

Los resultados y la documentación correspondiente al proyecto "A propósito de Alvão" se presentaron en el marco del programa Opening de ARCOmadrid 2017 (del 22 al 26 de febrero de 2017) comisariado por Juan Canela y Stefanie Hessler.
El proyecto ha sido coproducido con Kubikgallery (Oporto).